"Sair de um blog sem comentar é como visitar alguém e ir embora sem se despedir..."
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013

Portugal tem falta de aparelhos de radioterapia, revela estudo

3,2 milhões de europeus são diagnosticados todos os anos com cancro

24 de janeiro de 2013 - 09h01

Portugal tem uma aparente falta de aparelhos de radioterapia, segundo um estudo hoje divulgado na revista 'Lancet Oncology' que compara o número de equipamentos com o número de doentes a precisar de tratamento.

Os cientistas analisaram os dados dos 1.286 centros de radioterapia europeus registados na base de dados da Diretoria dos Centros de Radioterapia, gerida pela Agência Internacional da Energia Atómica.

Todos os anos, 3,2 milhões de europeus são diagnosticados com a doença, recordam os investigadores, que estudaram dados dos 27 países da União Europeia, bem como de seis outros países da região: Croácia, Macedónia, Turquia, Islândia, Noruega e Suíça.

A radioterapia é um método de tratar o cancro com objetivo de curá-lo, mas também é um método eficaz de aliviar os sintomas da doença nos casos mais avançados. Segundo o estudo agora publicado, entre 45 e 55% dos doentes com cancro requerem radioterapia e 20 a 25% precisam de mais do que uma série de tratamentos.

Tendo em conta estes dados, assim como o número de casos de cancro registados por país, os cientistas estimaram o número de tratamentos necessários anualmente por país e compararam-no com o número exequível, tendo em consideração que cada máquina trata aproximadamente 450 doentes por ano.

Concluíram então que, dos 33 países analisados, só 11 têm capacidade para realizar todos os tratamentos necessários, entre os quais os países nórdicos, a Bélgica, a Holanda e a Suíça.

Entre os que ficam aquém - e que portanto têm uma "aparente falta de máquinas - estão Portugal (com 19% de tratamentos por realizar), assim como o Reino Unido (21%), a Alemanha (20%), a Itália (16%) e a Áustria (20%), assim como a maioria dos países da Europa de Leste e de sudeste, alguns dos quais estão muito subequipados, com valores acima dos 50%.

Com uma média de 5,3 máquinas de teleterapia por milhão de habitantes, a Europa regista grandes desigualdades entre países, concluem ainda os investigadores, alertando que enquanto na Bélgica, países nórdicos e Suíça há mais de oito máquinas por milhão de habitantes, a taxa cai para menos de duas em países como a Macedónia ou a Roménia.

Portugal tem uma taxa de 4,6 máquinas por milhão de habitantes, abaixo da média (5,3).

Os investigadores sublinham que este estudo é apenas quantitativo e não teve em conta a qualidade das infraestruturas nem a formação e certificação dos profissionais de saúde, questões que devem ser alvo de outra investigação.

Segundo um estudo realizado na Suécia e citado no artigo agora publicado, dos doentes com cancro que são curados, 49% são curados com cirurgia, 40% com radioterapia sozinha ou associada a outros métodos e 11% com quimioterapia sozinha ou associada a outros métodos.

Um estudo recente da Entidade Reguladora da Saúde concluía que três em cada dez residentes em Portugal Continental precisam de percorrer, pelo menos, 45 minutos de estrada para aceder a tratamentos de radioterapia.

Lusa


Fonte:

http://saude.sapo.pt/noticias/saude-medicina/portugal-tem-falta-de-aparelhos-de-radioterapia-revela-estudo.html
Postado por Isa às 10:14
link | comentar | favorito
partilhar
Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013

“Os cancros do século XXI são hormonais”

Plásticos, pesticidas, pílulas e produtos vegetais estão a contribuir para o aumento da prevalência de cancros hormonais no mundo inteiro. O alerta é feito por Manuel Sobrinho Simões, director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto – o especialista esteve em Macau para participar no Fórum Médico Internacional Sino-Luso. Gostou do que viu na faculdade de Ciências da Saúde da MUST, mas deixa um aviso: “Não vale a pena competirem com Hong Kong”.

Inês Santinhos Gonçalves

- Antes de mais, que balanço faz deste fórum?

Manuel Sobrinho Simões – Eu era a única pessoa que vinha do lado da patologia humana e do diagnóstico de cancro, e o fórum foi muito mais sobre imunologia e transplante, grupos sanguíneos, a possibilidade de criar bancos para transplantes de órgãos e de células do cordão. Ouvi aqui quatro ou cinco dos melhores especialistas do mundo. Achei as conferências muitíssimo boas e aprendi muito. Vim cá falar sobre a possibilidade de se fazer um diagnóstico moderno, usando a patologia molecular. Acho que correu muito bem. Este fórum teve o mesmo nível científico que tem qualquer bom fórum europeu.

- O cancro é a principal causa de morte em Macau. O panorama no sul da China está a mudar?

M.S.S. – Não sei. Na China, trabalho na província de Henan e sei que há uma semelhança muito grande com Portugal no que diz respeito ao cancro do estômago. Nós temos muito e os chineses, nessa zona, também, em parte por causa da infecção pela bactéria ‘helicobacter pylori’. É uma bactéria que infecta o estômago. E depois, o que tenho visto lá muito mais do que em Portugal é cancro do esófago, porque fumam muito mais do que nós e bebem muito mais do que nós, e álcool de má qualidade.

- Qual o motivo para tantos casos de cancro do estômago?

M.S.S. – Subdesenvolvimento. Já não há na Europa civilizada.

- Está relacionado com a segurança alimentar?

M.S.S. – Está. E com a má higiene, a má conservação dos alimentos. A Finlândia, há 40 anos, tinha a mesma taxa [de cancro do estômago] que Portugal tem hoje e a diminuição da incidência foi proporcional ao Produto Interno Bruto. É o que chamamos um sucesso epidemiológico não programado: as pessoas enriqueceram, passaram a ter higiene, passaram a conservar bem os alimentos, passaram a dormir em quartos separados.

- Macau está agora a debater a lei de segurança alimentar. Esse tipo e legislação pode ter uma interferência directa na saúde?

M.S.S. – Pode, de duas maneiras. Primeiro, chama a atenção para o assunto – a alimentação e a respiração são dois factores externos com que estamos em contacto e são muito importantes. Segundo, na alimentação não há só o problema da qualidade, de os produtos estarem estragados. Isso é um problema, mas dá gastroenterites. Mas há o problema da quantidade de sal, da quantidade de fumados. Haver uma lei de segurança alimentar que seja utilizada, não de uma forma burocrática, mas de uma forma inteligente, vale a pena.

- Pegando no exemplo da Finlândia, é, então, expectável que a situação da China melhore, visto estar a crescer tanto.

M.S.S. – Seguramente. Mas, por exemplo, o Brasil não melhorou tanto como isso, apesar de estar mais rico. Está mais rico mas continua a ter uma quantidade enorme de pobres e muito pobres. A Finlândia teve um conhecimento harmónico. Um professor que esteve aqui na conferência veio-me dizer que estava muito interessado em trabalhar comigo. Ele é de Hebei, onde o cancro do estômago é o mais prevalente.

- Apesar de as condições de vida estarem, em geral, a melhorar, o número de casos de cancro tem vindo a aumentar. Porquê?

M.S.S. – Porque a maioria dos cancros não tem que ver com condições de vida mas com longevidade – as pessoas estão a ficar mais velhas. E depois há a questão do diagnóstico, que melhorou imenso, passámos a fazer muito mais diagnósticos. O número de cancros em todo o mundo está a aumentar. Na Europa, entre as pessoas da minha geração, uma em cada três tem cancro durante a vida – não quer dizer que morra de cancro. Em relação aos meus netos, que fazem de mim uma diferença de 40 anos, já se calcula que seja um em dois.

- Porque se fazem mais diagnósticos?

M.S.S. – Não, por causa da longevidade. O diagnóstico já não vai melhorar muito – deu um salto muito grande mas agora estabilizou. Mas o que aumentou imenso foi a longevidade. E passámos a tratar muito melhor. Por estranho que pareça, uma pessoa que tem um cancro tem muito mais probabilidade de ter um segundo e um terceiro. Portanto, a longevidade é maior e já não morrem como morriam.

- Há cancros do século XXI?

M.S.S. – Há. O seminoma do testículo, que subiu de forma impressionante. É um tumor que afecta rapazes novos. Achamos que é por causa da contaminação das águas, por hormonas e produtos semelhantes às hormonas. Os rapazes passaram também de sofrer de infertilidade, em todo o mundo ocidental. As raparigas passaram a ter a menarca [primeira menstruação] muito mais cedo – as nórdicas tinham aos 16 anos e agora têm como as africanas, aos 12, 13 anos. E aumentou também o cancro da mama.

- Isso tem tudo que ver com factores ambientais?

M.S.S. – Ambientais e hormonais. A pílula não é fácil de destruir, vai para as águas residuais. Há muitas substâncias que mimetizam o estrogénio: os plásticos, os pesticidas, a pílula, produtos vegetais – chamamos a isto disruptores endócrinos. Os cancros do século XXI são os cancros hormonais associados aos disruptores endócrinos. Os outros são os cancros dos velhinhos: são pequeninos e devem ser deixados sossegados. Se for fazer um raio-X bem feito aos 80 anos está cheio de cancros pequeninos.

- Os governos estão atentos a esse problema das substâncias hormonais?

M.S.S. – Os Estados Unidos estão a levar isso a sério, os países nórdicos também. Os países latinos estão-se nas tintas. A mim assusta-me que em Portugal não se tenham apercebido [do problema]. Por exemplo, no Porto, na barragem de Crestuma, onde estão as águas residuais, os peixes estão todos a mudar de sexo. Saem tantas hormonas que os peixes mudam de sexo. Ninguém pega nisto porque é muito difícil purificar [a água].

- Há casos de doentes oncológicos que chegam muito tarde ao médico porque optam primeiro pela medicina tradicional chinesa.

M.S.S. – Não há dúvida nenhuma que os doentes nos países subdesenvolvidos – e falo também de Portugal – chegam tarde demais ao médico. E é verdade que, se no percurso forem entretidos com coisas que não funcionam, é pior. Em relação à medicina tradicional chinesa, acho que há uma hipótese estupenda de ajudar na quimioprevenção. No tratamento, acho que não há forma de tratar cancro que não seja pela cirurgia, pela radioterapia e pela quimioterapia. Aquela ideia de ‘venceu o cancro porque tinha muita força’ é mentira. No entanto, a medicina tradicional chinesa tem potencialidades estupendas no domínio da prevenção e da literacia e educação para a saúde.

- Em locais como Macau, falta conjugação entre a medicina ocidental e chinesa?

M.S.S. – Claro. Devia haver muito mais. Não podem é substituir-se, elas são complementares, não são alternativas. Infelizmente a medicina ocidental não tem nada de preventiva, nós somos treinados para curar.

- Visitou a faculdade de Ciências da Saúde. Que caminho acha que Macau devia tomar nesta área?

M.S.S. – Achei muito interessante o modelo, com o hospital. Defendo muito que as ciências da saúde devem ter os três componentes: hospital, médicos e investigação. A faculdade tem modelos muito interessantes para treinar cirurgiões, enfermeiros, obstetras e médicos de medicina de urgência. Sou muito a favor da utilização de equipas multidisciplinares. A ideia de um médico que resolve tudo já acabou, o médico fica caríssimo e não resolve coisíssima nenhuma. Há imensas coisas muito mais bem feitas por técnicos ou enfermeiros ou assistentes sociais, e que ficam muito mais baratas. Por exemplo, acho que os partos devem ser feitos por parteiras – desde que sejam feitos em hospitais. Achei que esta faculdade de ciências da saúde faz uma ligação muito interessante com as outras profissões não-médicas, com os engenheiros. Isto pode constituir um nicho. Não vale a pena competirem com Hong Kong. Hong Kong é ‘first class’. Mas há complementaridades.

- Como funcionaria esse nicho?

M.S.S. – Treinando, por exemplo, pós-graduados. Já formados em medicina, ou enfermagem, ou fisioterapia, ou em próteses, ou em medicina dentária. Especializações com treino, com ‘hands on’, tendo os doentes ao lado. Mas não competindo nas coisas muito fundamentais, porque são caríssimas e são muito bem-feitas em Hong Kong.


Fonte: http://pontofinalmacau.wordpress.com/2013/01/21/os-cancros-do-seculo-xxi-sao-hormonais/
Postado por Isa às 16:10
link | comentar | favorito
partilhar
Sábado, 19 de Janeiro de 2013

O meu testemunho, passado estes 7 anos...

Como tudo começou…

Como eu comecei a viver a minha vida com o antes e o depois do cancro…é assim que hoje divido a vida…

Sim, porque muita coisa muda, muda…porque o tempo passa…e até possivelmente mudaria se não fosse o cancro, mas ele teve cá….e dificilmente haverá um dia da minha vida que eu não me lembre…

Falando primeiro de mim, no antes…

Vivia sozinha, tinha 35 anos, solteira, e tinha 2 trabalhos, ou seja levava o dia a trabalhar ate as 23h15m. Mas gostava do que fazia.

Tinha uma pessoa, que me preenchia o coração, um relacionamento leve e descontraído, mas bem vivido, como sempre quis, ou seja, tinha uma pessoa em quem podia confiar e amar…sem pensar em mais nada…

E resumindo era uma pessoa feliz, cheia de vida…só que houve um mas…e esse mas, chamou-se cancro da mama.

Primeiro começou com uma cotovelada num encontro de amigos, doeu-me e nunca mais deixei de ter uma sensação estranha na mana, e por incrível que pareça a mesma pessoa passado 8 dias, já em outro local, voltou a dar-me uma cotovelada na mesma mama, no mesmo sítio. O que me doeu ainda mais. E a impressão não desaparecia.

Fui ao centro de saúde, mandaram-me fazer eco, eco essa que não acusou nada, mas já eu sentia um empastamento na mama, que não me agradava e não fiquei confiante daquele resultado, porque mesmo não sendo algo preocupante teria que aparecer no relatório da eco referência a esse empastamento.

Depois verifiquei que no soutien na direção do mamilo, havia uma pinga de sangue, minúscula, mas estava lá, e isso ainda me deixou mais alarmada. Voltei ao Centro de Saúde, disseram-me para voltar a fazer eco, mas para não fazer com o mesmo radiologista e assim foi.

A médica, disse-me que via ali microcalcificações (que para mim era chinês) e que tinha que fazer mamografia, para eu ir ter com ela ao hospital dai a 8 dias.

Fui para casa e obviamente, fiz o que toda a gente faz, fui para a net ver o que era microcalcificações e obviamente não gostei do que li. Mais assustada fiquei.

Dai a 8 dias, estava no hospital sozinha para fazer a mamografia, de mamografia, rapidamente a médica me questionou se queria fazer biopsia naquele dia ou dali a 8 dias, porque seria preciso, que eu era muito nova e não podíamos deixar duvidas para trás, fiquei em pânico, comecei a chorar, estava a ver a minha vida a andar para trás…já tinha vivido aquilo tudo com a minha querida tia e o desfecho dela foi o pior. Faleceu numa cama de hospital no IPO, numa madrugada de domingo, sozinha e eu não queria isso para mim, mas era só o que conseguia pensar… cancro da mama…não…

Fiz a biopsia logo, não aguentaria esperar mais 8 dias, estávamos em Janeiro de 2006 e as minhas dúvidas tinham começado em Novembro, era muito tempo…para quem queria ouvir que estava tudo bem.

Dali á consulta de decisão, foram mais 8 dias, 8 dias angustiantes, sem querer pensar no assunto, mas sem conseguir, não alarmei ninguém, e muito menos transmiti o que estava a sentir, tinha para mim que a minha sentença estava marcada, e que o resultado ia ser mesmo cancro da mama, e não me enganei.

Quando no meio da consulta com um número de médicos elevadíssimo a olhar para mim, me disseram a Isabel tem cancro da mama….O mundo caiu-me em cima, comecei a chorar, não queria estar ali, não queria ouvir isso, e gritei que não queria ter um cancro, queria ter um filho….tinha 35 anos…senti-me perdida…abandonada…e muita tristeza. O destino estava traçado, quimioterapia para diminuir os 3 cm de cancro, mastectomia e radioterapia…tinha direito a tudo…como tudo muda em minutos…

Como morava sozinha, mudei-me para a casa dos meus pais, de onde tinha saído em 2003. Não tinha coragem de passar as noites sozinhas, muitas delas ao início eram em branco.

No dia seguinte estava a fazer quimioterapia de cabeça erguida, a querer lutar e a dar um ano à doença…estávamos 20 de Janeiro de 2006.

A quimioterapia foi terrível, dores musculares, febres, ma disposição, aftas, falta de apetite, diarreias, mau sabor na boca, pernas inchadas, intolerância a certos cheiros, ao calor, mau humor.

O cabelo caiu logo depois da primeira quimio, usei prótese capilar, não me gostei de ver com os lenços. E tinha dias que não suportava a peruca, estava desejosa de chegar a casa para a tirar. Não deixei de trabalhar, só nos dias em que estava menos bem, é que ficava em casa.

Fiz 8 quimios, Graças a Deus sempre dentro das datas previstas, chorei muito, muitas vezes nem sabia porque estava a chorar, tinha a técnica de ir para o espelho e perguntar a isabel refletida no espelho, o que se passava hoje que não fosse igual a ontem que não tinha chorado. E era uma terapia para mim. A Isabel do espelho respondia que nada e a Isabel acabava por perceber que afinal, não tinha motivos para chorar, porque as coisas estavam a correr bem.

Tive muito apoio da família, de amigos chegados e do meu grande amor, que nunca me falhou, as coisas ficaram mais serias e acabamos por assumir o nosso relacionamento e foi tão importante, esse passo. Aliás um dos meus pensamentos, quando soube que tinha cancro, foi dizer ao Jorge para viver a vida dele, porque eu tinha uma batalha grande pela frente, mas não fui capaz de o fazer.

Também tive desilusões, amigos que não perguntaram como estás Isabel tantas vezes como eu esperava, uns que nem se chegaram ao pé, outros que eu achava que podia contar e não contei, valeu amizades novas de onde as vezes menos se esperam.

Depois veio a Cirurgia, o tumor tinha reduzido o suficiente para não tirar a mama, e o médico perguntou-me se eu queria tirar ou não, ao que respondi prontamente que me tinha preparado 6 meses para a mastectomia, logo era para tirar.

O mês de agosto que era para mim um mês de praia, ferias, sol e diversão, fui ser operada. Dia 10, já mais esquecerei. Correu bem. E vi logo a cicatriz no dia seguinte. O penso não estava bem colado e acabei por ver e não tive vergonha de o Jorge ver, era a Isabel que tinha restado depois do cancro da mama e tínhamos que saber os dois lidar com isso. E não foi difícil. Claro que depois com o tempo, parava para pensar e vinha-me uma lagrima ao canto do olho, o que me havia de ter acontecido, mas eram momentos de fraqueza que passavam rápido. Ainda não disse, mas o que eu mais gostava no meu corpo, era as minhas maminhas…

A recuperação passou e fui chamada para a radioterapia, já eu andava a por mama e tirar mama, pois comecei a usar um paninho a fazer de mama, porque ao início ainda não podemos usar a prótese e mesmo durante a radio, foi o que usei.

Quanto a prótese capilar, deixei-a no dia que sai do hospital quando fiz a mastectomia, já iam ser próteses a mais e até porque o cabelo já tinha começado a crescer, apesar de estar bem curto. Mas o calor de Beja em Agosto, também não ajudava a usar cabeleira.

Não havia Radioterapia em Beja, não havia em Évora (como há agora) e ainda não havia em Faro, o destino foi Carnaxide. Fui com a minha mae, vinha a Beja nas folgas da radioterapia, mas por coincidência, o meu pai, teve um acidente no meu carro um dia antes de ir para a radio e tive ir de táxi e posteriormente lavei o carro da minha cunhada, meu quase que ia para a sucata. O meu pai ficou ileso. E assim com carro, conseguia vir 4 dias a casa. O que era ótimo ainda ia ao trabalho a uma formação importante que estava a decorrer, dava para namorar e rever os amigos e familiares. A radioterapia não custou, usei bastantes cremes hidratantes e tive a sorte de não chegar a fazer ferida.

O tempo que passei em Carnaxide com a minha mae, foi muito proveitoso, pois aproveitamos bastante para passear, rever pessoas que não víamos há tempo que moram por Lisboa. Foi um mês bem passado.

Mas não me saía da cabeça, como sempre em todo o processo, que a minha tia tinha falecido de cancro, era difícil dividir a morte dela do meu cancro. Foi uma aprendizagem que fui fazendo.

A par disto criei um blog, www.isabelguerreiro.blogs.sapo.pt, onde ia relatando os meus sentimentos, as minhas dores, o desenrolar da minha doença.

Em Outubro terminei a radio, dia em que nasceu a Rita a minha sobrinha. O nascimento dela deu-me esperança. Achei sempre uma feliz coincidência, porque eu sentia-me a renascer.

Em Novembro, com o ano quase passado, tive consulta e o médico, disse-me que a partir dali iria ter consultas de rotina, para vigilância e para já estava tudo controlado, por acaso, não tenho em mente em que dia foi, mas foi um dia muito feliz. Era voltar à minha vidinha, ao meu dia-a-dia.

Fiquei a tomar o famoso Tamoxifeno, que levantava na farmácia do hospital, depois numa das consultas de rotina, que aconteceu em Março de 2007, o médico disse que ia deixar de tomar o Tamoxifeno e ia começar com outro tratamento, que chamou de Herceptin, coisa que eu ainda nunca tinha ouvido falar e não me explicou muito mais. Quando me apercebi que era na sala da quimioterapia, e se tomava da mesma forma, fez-me bastante confusão, só de pensar que ia passar por tudo, valeram-me as enfermeiras para me explicarem que não tinha efeitos e que era preventivo. Lá me sentei naqueles cadeirões mais 18 vezes, de 3 em 3 semanas durante 1 ano.

Encaminharam-me para a Cirurgia plástica no entretanto, coisa que perguntava sempre ao médico, quando é que podia fazer a reconstrução, tive sempre em mente que não queria ficar em desiquilibrio com o meu corpo, não queria levar os dias a tirar e a por prótese.

Passados quase 2 anos (Julho 2008) da mastectomia e já com o Herceptin terminado, fui chamada para fazer a reconstrução mamária, até aqui também me calhou a parte mais complicada, teve que ser com retalho da barriga, ou seja, tecido abdominal, músculo e uma veia puxada para irrigar a minha nova mama ou seja a minha barriga deslocada. Posteriormente e por causa da assimetria fiz redução da outra mama (Abril 2009).

Mas em mente continuava um sonho na minha cabeça e na cabeça do meu marido, marido porque depois de ter ficado bem, voltei a morar sozinha na minha casa e o Jorge foi lá ficando, até que se mudou para lá e casámos em Outubro de 2008, como dizia, o sonho era já comum, e queríamos ser pais, procurei uma medica ginecologista para saber se continuava apesar dos tratamentos, uma mulher fértil, ao que ela me disse que sim.

Combinamos com a médica de cirurgia plástica, parar as reconstruções para eu poder engravidar, o que aconteceu de imediato, ficamos tão contentes, a alegria era tão grande que não cabíamos em nós de felicidade. Só que a gravidez foi interrompida, numa consulta em que fui sozinha à obstetra, tive a noticia que o coração do bebe tinha parado. Tive que ser internada para fazer um aborto, que foi horrível.

Já tinha passado por tanto, que pensei em não entrar em tristezas e não me entregar ao desgosto de perder aquele filho. Mas é muito triste.

Passados uns meses estava grávida novamente. Grávida e felizes, tinha superado o cancro, com a ajuda de muito amor em meu redor, a reconstrução ia a mais que meio e agora íamos receber um filho. Achei sempre que a gravidez desta vez, ia chegar ao fim e assim foi, apesar dos meus 40 anos, tive uma gravidez tranquila e a 30 Novembro de 2010, nasceu o nosso filhote, Miguel…lindo…lindo…como qualquer mãe sonha. Tem agora 2 anos. E foi a melhor coisa que nos aconteceu. A razão, que nada acontece por acaso. A razão que hoje podemos estar menos bem, mas amanhã poderá ser melhor. A esperança tem que nos acompanhar, a força não nos pode faltar, porque garanto que tinha forças que nem sabia que existiam.

Costumam-me dizer que tive força neste processo todo, mas não há outra maneira de superar um cancro e eu costumo dizer que também é preciso ter sorte. Porque há quem tenha força e a sorte não aparece.

O que aprendi com isto tudo:

A viver um dia de cada vez…a pensar mais no hoje e que nada mesmo nada é eterno. Quanto mais aproveitarmos o agora, melhor…

E que apesar do processo da nos pormos bem, podemos ser felizes, a doença não é só infelicidade, fiz muita coisa no ano de 2006 que me fez ser feliz.

A partilha de experiencias é essencial, falar com pessoas que já passaram pelo mesmo é diferente do que desabafar com alguém que não sabe e não sentiu o que estamos a passar, partilhei muito a partir do momento em que criei o blog uma luz na escuridão (2007), criámos um grupo amigas do peito e coração, uma amizade forte que continua nos dias de hoje, mesmo com algumas perdas dolorosas, tão dolorosas que é como sentir que há um pouco de nós que parte com essa pessoa. Posteriormente com o acesso ao Facebook, pertenço também a vários grupos de partilha do cancro da mama, onde também criei novas amizades.

Hoje a minha vida é o mais normal possível, com algumas mazelas que ficaram, como dores nas costas, cansaço…cicatrizes…muita experiencia, muitas idas ao médico, rotinas de exames, sustos…e vivendo a aprender a saber lidar com a perda da mama.

Termino, dizendo que adoro viver…e quero ver o meu filho crescer com saúde e a saber que tudo o que passei não foi em vão, foi para o ter comigo….

 

Isabel Guerreiro

Beja

42 anos

 

Postado por Isa às 09:00
link | comentar | ver comentários (8) | favorito
partilhar
Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2013

Mês de Janeiro

Mês de Janeiro, o início de um ano, de vida nova, de sonhos por realizar...
O mês de Janeiro de 2006, foi diferente em tudo, foi um começo de ano entre alegrias de aniversários e os exames médicos que iam ditar a sentença... Foi um mês de muitas emoções, queria estar bem, mostrar que estava bem, mas só Deus, sabia como eu andava angustiada. Angustia que só partilhei dia 19, quando não havia mais nada para adiar.
Volto ao blog com o meu testemunho, 7 anos depois.
Postado por Isa às 11:08
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
partilhar

.Eu

.Contacto

isabelguerreiro@net.sapo.pt

.links

.posts recentes

. Até sempre...

. Seis recomendações para e...

. Oncologia no Alentejo

. Serpa: Rastreio Cancro da...

. O ultimo

. Venha Correr ou Andar por...

. 4 anos daminha reconstruç...

. "A batalha que nós não es...

. Uma historia de vida, nes...

. Um dia pela Vida...

.arquivos

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

.favoritos

. Está a chegar o final do ...

. Tia Bia

. Novo passo no tratamento ...

. Avó Nena

. Tia Bia

. Amor

. Mãe

. Pai

. Manas

. Obrigado

.Junho 2013

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.pesquisar

 
Todos os artigos e matérias publicadas neste blog, bem como as informações sobre procedimentos de exames e diagnósticos aqui inseridos, têm carácter estritamente informativo e não devem ser utilizadas de forma alguma para a realização de auto-diagnóstico, auto-tratamento e ou auto-medicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

.últ. comentários

Boa tarde, onde se encontra um médico especialista...
Eu gosto do jeito que você escreve
Eu gosto de seu pensamento e sua maneira de escrev...
Gostaria de saber se alguém tem conhecimento de se...
Boa tarde,Por acaso estou a passar pela situação e...
Bom dia gostaria de saber uma informação como sou ...
Tenho linfoma cutâneo doença crônica e sem cura , ...
tumor benigno na cabeca do colo do femur. grau de ...
https://escritosdispersos.blogs.sapo.pt/222610.htm...
No processo de revisão ou reavaliação, o grau de ...

.mais comentados

44 comentários
28 comentários
25 comentários
24 comentários
23 comentários

.tags

. todas as tags