Como o título indica, reporto-me ao ano de 2006
Era quinta-feira, dia em que o hospital realizava as consultas de decisão terapêutica, uns dias depois de me terem entregue a carta com a data e nome da consulta, é que me inteirei e tive noção que sendo uma consulta de decisão terapêutica, iriam decidir o que fazer no meu caso, logo só me podia vir à ideia, que a coisa não seria nada boa.
O dia foi grande, a manhã custou a passar, porque estava impaciente, desejando que chegasse a hora da consulta.
Depois de ir à campa da minha tia e avó, e depois de almoçar, fui com minha irmã Célia, ao hospital, ás consultas externas (ainda me lembro o que tinha vestido e tudo), e depois de esperar horas para ser atendida, fui chamada
A minha irmã entrou comigo, lá dentro esperavam-nos uns quantos médicos, enfermeiras. Um dos médicos, percebi que seria o chefe de equipa, tomou a palavra para dizer: A Isabel, está aqui e sabe que a noticia não é boa, a Isabel tem um carcinoma da mama maligno.
Caiu-me o mundo em cima...
Lá me acalmaram, eu virei-me para eles e disse, sabem qual era a minha opinião, quando falava se um dia tivesse uma coisa dessas ao semelhante, não iria fazer tratamento nenhum, iria ficar ao sabor da doença. Mas perante a realidade essa opinião tinha ficado por terra, queria-me curar. E viver muitos anos.
Perguntei se ia fazer quimio, se ia ficar sem mama, sem cabelo... as respostas iam sendo afirmativas. Saber de isto tudo num dia, num instante, tanta coisa que iria mudar, pensava eu...Mas teria que enfrentar, teria que ter força, coragem e esperança, que tudo seria uma fase.
Foi com esse sentimento que sai da consulta.
Foram-me mostrar a sala de quimio, falei com as enfermeiras, lembro-me de ter falado com uma delas, a dizer que ia deixar o Jorge, porque não queria que ele sofresse por minha causa.
Fui ainda fazer análises e no outro dia às 9 horas teria que estar lá, para começar o meu primeiro tratamento.
Consegui contar pelo telefone à minha mãe, a minha irmã Célia, não estava a conseguir, a minha prima Mila, foi ter connosco ao hospital, estranhou estarmos a demorar.
Liguei ao Jorge, contei-lhe que estava com cancro da mama, as palavras dele, foram que vamos ultrapassar e claro que já não consegui dizer o que tinha pensado no hospital.
Quando cheguei a casa abracei todos e chorei.
Contei aos meus amigos mais próximos.
Tive muito apoio, a força começou a aumentar, a esperança também.
Estava preparada para enfrentar os meses que se seguiam, para o processo de cura.
Não conto isto, para me lamentar, nem com sentimentos nostálgicos, conto porque foi um momento menos feliz da minha vida, que considero que é de partilhar, sofri, mas estou aqui, é este sentimento de vitória que quero transmitir.
Dia 20, as 9 já lá estava, apesar do tratamento só ter começado perto das 13 horas.
Eu já estava com uma carga de positivismo em cima e as minhas palavras para ela foram, que íamos conseguir.
Íamos dar um ano, à doença. E depois era viver a vida em grande.
Foi estranho, sentir aquela coisa gelada pela veia a cima, sintomas só tive a queda do cabelo, deste primeiro tratamento.
Peço é muito e sempre que Deus que me mantenha com saúde.
Muitas mais datas ficaram na minha mente, mas o mês de Janeiro, foi um dos que mais marcou, por isso, fiz esta referência, mais pormenorizada.
Como alguém diz
"Uma doença grave é uma fase muito importante na vida de uma pessoa mas não é obrigatoriamente o fim dessa vida"
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