Para quem tem chegado ao meu blog recentemente, e não conhece a minha história pelo cancro da mama, aqui fica o meu relato.
Tenham um bom fim-de-semana.
Estávamos em Novembro de 2005, quando me deram uma cotovelada na mama esquerda, doeu-me logo e ficou a incomodar-me, começou a fazer um empastamento que não gostei nada. Fui ao centro de saúde, mandaram-me fazer uma eco... ( para mandarem fazer mamografia, é preciso sei lá o quê) conclusão, não detectaram nada nessa eco, tomei antibiótico e não melhorou. Previa um cenário não muito bonito, voltei ao centro, disseram-me para fazer nova eco mas que pedisse para fazer com outra radiologista (o primeiro que me fez era novo na especialidade, azar o meu) com isto, já estávamos em Janeiro de 2006. Fui fazer
E para ajudar a este turbilhão de emoções, uma das minhas melhores amigas, da minha idade, andava a fazer exames desde Agosto de 2005, desconfiada que tinha cancro da mama, e já tinha feito a biopsia, estava a espera do resultado.
A médica passou-me logo uma carta para o oncologista, pois viu logo o que aquilo ia dar, mas eu não quis ver, acho. Só dois dias antes da consulta é que vi que se chamava consulta de decisão. E ai vi que só podia ter cancro, porque se não, porque haviam de ir decidir alguma coisa...mas não contei a ninguém.
Dia 19 de Janeiro fui à consulta, muitas horas de espera, mas já não fui sozinha, levei a minha irmã mais velha.
Entrámos e o medico disse isto tão claro como a agua, a Isabel sabe porque esta aqui, a Isabel tem cancro da mama.
É esta a frase que tenho usado sempre...o mundo caiu-me em cima...
A minha irmã, que estava mesmo a pensar que aquilo tinha sido da cotovelada acho que ainda reagiu pior do que eu. Eu gritava que queria ter um filho e não um cancro, uma médica chorou...de emocionada que ficou, senti-me abandonada por quem eu achava que me protegia lá do alto (minha tia e minha avó falecidas em 1999 e 2003, hoje sei que nunca me faltaram).
Depois de chorar disse á equipa - quando falava socialmente se algum dia uma coisa destas me acontecesse dizia que não queria ser tratada e que durasse ate durar, hoje perante a doença e caindo na realidade não vejo as coisas assim, e claro que quero que me tratem o que há a fazer, vai-me cair o cabelo???? Vou ficar sem mama??? Foram as minhas preocupações.
E eles lá me disseram que sim, que iria fazer 8 sessões de quimio depois operação e mais tarde rádio.
E para me dirigir ao laboratório para fazer analises que amanha dia 20 de Janeiro de 2006, iria começar a quimio.
Foi tudo muito rápido, de um momento para o outro passei de saudável, de uma pessoa cheia de vida, cheia de trabalho, a doente, doente oncológica. Assusta...
Fui eu que contei aos meus amigos, familiares e nesse dia depois de chorar levantei a cabeça e disse para mim, vou conseguir, vou-me salvar deste maldito cancro, este não é o meu ponto final, é uma virgula, a vida continua.
Pensei em deixar o meu namorado, não queria que ele sofresse comigo, queria que ele continuasse com a vida dele, sem ter que assistir a isto tudo, mas quando lhe fui contar, as palavras dele as emoções e as atitudes fizeram-me mudar imediatamente de pensamento, ele seria a minha força, a minha garra à vida, prometi a mim mesma que teria que viver para o fazer muito feliz depois de me tratar.
Nesse mesmo dia 20 de
Fui a Fátima, rezei, coisa que antes de saber se tinha cancro da mama, ou não, não consegui fazer, foi estranho, mas nem no terço conseguia agarrar.
E como se espera nos tratamentos, fiquei sem cabelo, engordei, fiquei pálida, sem pelos, tive enjoos, má disposições, dores nas costas, dores nas pernas, febres, aftas, as unhas escuras, a pele seca, irritabilidade, não tinha paciência, muito sensível.
Mas Graças a Deus, correu sempre tudo nos tempos, nunca falhei um tratamento, alimentava-me bem, só não tinha apetite nos dias dos tratamentos.
Fiquei de baixa, mas depois achei que em casa, estava pior, tinha tempo para pensar, e tinha era que estar ocupada, perdi o sono, comecei a ficar dependente de comprimidos para dormir, isto depois de tentar descobrir qual o comprimido que fazia efeito, comecei a trabalhar e só faltava algum dia ou outro que não tivesse bem, o tratamento era a sexta, para ter o fim de semana para recuperar, mas as vezes os sintomas só apareciam lá para terça ou quarta, era ai que faltava, tinha que ser.
Custei a separar o cancro da morte, só me vinha a ideia que a minha querida tia, que eu tanto acompanhei tinha falecido de cancro, com o tempo fui conseguindo, fui conhecendo histórias de sucesso e isso deu-me muito alento.
A queda do cabelo custa, mas se pensarmos que são
Coloquei logo a peruca, ficava bem diferente, mas não havia alternativa, nunca gostei de me ver com os lenços.
Tenho que confessar, que nem tudo foi mau, estava doente, mas tentei fazer a minha vida normal, não saia tanto, mas não me fechei em casa. Também fui feliz nesse tempo, não o posso negar.
Terminei a quimio em Junho, um dia depois de fazer 36 anos, agora era aguardar que me chamassem para a cirurgia.
Ainda tive uma consulta, e o medico perguntou-me se eu queria fazer mastectomia ou se preferia tirar só o nódulo que até tinha diminuído, correndo as consequências dos riscos que poderiam vir dessa decisão. E eu disse que havia 6 meses que me andava a preparar para a mastectomia e que queria fazer.
Fui de férias para
Dia 6 chamaram-me para ser internada dia 9 e operada dia 10, e assim foi.
Éramos
No dia a seguir o penso descolou e eu vi logo a minha cicatriz, não me fez tanta impressão, como pensava. Mas eu estava mutilada, estava diferente, era uma nova Isabel, era a Isabel que o cancro da mama tinha deixado e tinha que aprender a viver assim.
Não hesitei em mostrar ao Jorge, foi com a maior das naturalidades. Era eu na mesma, e foi isso que ele me disse.
Quando entrei para o hospital, o cabelo estava a começar a crescer, só lá estive 5 dias, mas o suficiente para já não usar a peruca, pois enquanto lá estive não a usei e depois até parecia que aquilo não tinha sido o meu cabelo nos últimos seis meses.
O cabelo estava mesmo muito curto, mas já não voltei a usar a prótese capilar, já que agora a prótese a usar tinha que teria que ser a da mama.
Dai a um mes mais ou menos fui chamada para a Rádio, ainda fiz fisioterapia, pois o braço estava muito preso.
Tive um mes e pouco em Carnaxide para fazer os 25 tratamentos de Radioterapia, tinha tratamento ao sábado e ao Domingo, vinha a Beja à quarta e quinta, ou seja esses eram os meus dias livres, mas eu vinha logo a terça e ia para cima à sexta.
Terminei no dia que nasceu a minha sobrinha Rita, foi um prenúncio que estava livre, que tudo tinha acabado bem. Foi vida nova, isto em Outubro de 2006.
A partir dai, comecei com rotinas de 3 meses, uma das quais (Abril de 2007) me foi dito que iria começar a fazer um tratamento que seria bom para mim, não percebi muito bem, mas no dia D, lá fui ao hospital, fazia-se na sala de quimio, o que foi um pouco doloroso, parecia que estava a reviver tudo, mas depois as enfermeiras explicaram-me que o tratamento era de prevenção e que não iria ter os mesmos sintomas, embora tudo o resto fosse igual, 2 horas sentada nos cadeirões, mas só me provocava sono e fome. Por isso adquiri mais peso.
A par disto tive consultas de cirurgia de reconstrução, mas só poderia começar quando o tratamento acabasse, e tive muita sorte com as datas, porque assim que terminou os 18 tratamentos de herceptin que durou um ano, terminando em Abril de 2008, chamaram-me para fazer a primeira operação de reconstrução que acabou por acontecer em Julho de 2008.
No dia anterior tirei uma foto, para ficar de recordação, e foi nesse dia que tive consciência de como estava, nunca me senti diminuída como mulher por não ter uma mama, claro que as vezes ficava triste porque não podia vestir certas roupas, mas ao ver a foto no ecrã do Pc, parecia que não me estava a ver a mim, não me reconhecia, mas como já ia fazer a cirurgia no dia seguinte, não me afectou.
A operação de 7 horas, chamada de TRAM, correu bem, tive algumas dores ao acordar, mas que foram passando, tive internada 6 dias, estava desejosa de vir para casa, esta operação foi em Évora porque Beja não tem este serviço e sentia-me longe de casa.
Não dou de conselho às mulheres a fazerem a reconstrução, umas dizem que não querem sofrer
Casei ainda nesse ano em Outubro, não tinha o sonho de casar, mas depois de muito conversarmos achamos que tínhamos que ter uma data para festejar, para lembrar, para juntar a família e amigos, ter o nosso dia.
Fiz mais uma reconstrução em Abril de 2009, é o mal destas reconstruções, não é uma e já esta, são várias.
Esta é a minha história no cancro da mama, muito havia ainda para dizer, mas o que tento dizer e transmitir sempre, é que não podemos baixar os braços, o cancro também morre e que no processo e no caminho da nossa “cura”, podemos ser também felizes e proporcionar a nós mesmos momentos bons na nossa vida.
Tenho conhecido gente fantástica, decepcionei-me com algumas pessoas, mas ganhei a amizade de outras, nem sempre as pessoas que achamos que podem ficar a nosso lado, ficam. Mas umas compensam as outras.
O meu amor, os meus pais, irmãs, cunhados, sogros, sobrinhas, restante família e alguns bons amigos, foram e são muito importantes na minha vida e sei que posso sempre contar com eles.
E como sempre digo, nunca vou conseguir agradecer o que fizeram por mim. Obrigada mais uma vez.
Agora, é viver a vida na plenitude, pensar mais no hoje, não adiar projectos, não me chatear com futilidades, dar importância ao que realmente é importante.
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